Atualmente, existem 281 milhões de migrantes internacionais no mundo, dos quais 117 milhões foram deslocados por razões forçadas, como conflitos, violência e desastres naturais, de acordo com o Relatório Mundial sobre Migração 2024, divulgado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Apesar dos desafios significativos, o fenômeno migratório continua a impulsionar o desenvolvimento humano, promovendo transformações profundas nas esferas social, econômica e cultural.
Sobre a contibuição econômica que a migração traz, o Relatório destaca que:
- Remessas internacionais tiveram um aumento de 650%, passando de 128 bilhões para 831 bilhões de dólares entre 2000 e 2022.
- Remessas de migrantes ultrapassam os investimentos estrangeiros diretos no aumento do PIB das nações em desenvolvimento.
O Dia Internacional dos Migrantes, celebrado em 18 de dezembro, oferece uma oportunidade para refletir sobre todas essas contribuições e sobre o impacto positivo que os migrantes geram tanto nas sociedades de acolhimento quanto nas comunidades de origem.
Entre essas transformações, a culinária se destaca como uma ponte entre culturas, simbolizando a capacidade de os migrantes enriquecerem as sociedades que os acolhem enquanto preservam e compartilham suas próprias identidades culturais. Em Boa Vista, Roraima, a Fraternidade – Missões Humanitárias Internacionais (FMHI) organizou, por meio do Centro Cultural e de Formação Indígena (CCFI), a 13ª Feira Intercultural Indígena, com o tema “Herança Culinária”. O evento destacou a riqueza das tradições gastronômicas indígenas, reunindo não apenas migrantes indígenas, mas também a sociedade local em um espaço de trocas culturais.
Feira Intercultural Indígena: Sabores e Histórias
A Feira Intercultural Indígena, realizada no último dia 14 de dezembro foi uma celebração da identidade e da ancestralidade dos povos indígenas. Durante o evento, pratos típicos como guizo rallado Warao (ensopado preparado com o peixe da espécie jabajaba, em warao) e beiju Macuxi foram preparados ao vivo e oferecidos para degustação. Também tinham para a aquisição do público: sucos naturais, caxiri (suco fermentado de mandioca), damurida Macuxi, kumache Pemon, produtos à base de pimenta como molhos e geleias.
Cada receita traz consigo não apenas sabores únicos, mas também histórias que refletem o uso sustentável dos recursos naturais e a relação simbólica dos povos indígenas com a terra.
“A culinária é um espelho da história e sabedoria dos nossos povos. Esses encontros permitem que indígenas e brasileiros aprendam uns com os outros e fortaleçam seus laços comunitários”, afirmou Diolimar Tempo, do povo Kariña. Ela destacou ainda que a culinária é uma expressão essencial da identidade indígena, conectando as pessoas à sua ancestralidade por meio de técnicas de preparo e ingredientes característicos, como mandioca, milho, frutas nativas e peixes. Para os povos indígenas, plantar, colher e preparar alimentos são rituais que reafirmam o respeito à terra, promove práticas sustentáveis e preserva a biodiversidade.
Conexões Culturais e Desenvolvimento Comunitário
O servidor humanitário voluntário Oliver, da Fraternidade – Missões Humanitárias (FMHI), reforçou a importância dos eventos interculturais como a feira para promover o diálogo entre diferentes povos. “Ao compartilhar suas receitas e técnicas de preparo, os indígenas não apenas alimentam os participantes, mas também promovem a troca de saberes e a valorização de suas tradições. O público tem a oportunidade de conhecer a fundo a cultura indígena, desde os ingredientes utilizados até o significado simbólico de cada prato”, afirmou.
Além disso, Oliver destacou que a Fraternidade – Missões Humanitárias (FMHI), ao longo dos anos, tem investido em capacitações voltadas para os povos indígenas, como cursos de português e oficinas de empreendedorismo, para fortalecer a autonomia e a geração de renda dessas comunidades. Oficinas sobre marketing, atendimento ao cliente e gestão financeira têm sido fundamentais para que os indígenas desenvolvam habilidades e ampliem suas oportunidades no contexto de acolhimento.
A Culinária como Patrimônio Cultural
A culinária indígena é um importante referencial da identidade cultural dos povos originários e tem influenciado profundamente a culinária brasileira contemporânea. Ingredientes como a mandioca, o milho e o açaí, bem como técnicas tradicionais como a utilização de panelas de barro e a fermentação natural, são exemplos dessa rica herança. Em um contexto de crescente urbanização e perda de territórios, a culinária se torna um símbolo de resiliência, reafirmando a identidade dos povos indígenas e promovendo o respeito à sua história e direitos.
Ao celebrar a diversidade cultural por meio da gastronomia, a Feira Intercultural Indígena mostrou como a migração pode ser uma força transformadora, unindo pessoas de diferentes origens em torno de valores comuns. Cada prato servido não apenas nutriu os participantes, mas também contou histórias, construiu memórias e abriu espaço para um diálogo intercultural. Em um mundo marcado por deslocamentos, a culinária se torna uma linguagem universal que conecta, enriquece e preserva as culturas.
No Dia Internacional dos Migrantes, a celebração da herança culinária indígena nos mostra o papel essencial da migração na construção de sociedades mais inclusivas e ricas culturalmente. Ao valorizar as contribuições dos migrantes, reconhecemos que cada história, cada sabor e cada cultura tão diversa fazem parte de um legado compartilhado que deve ser preservado e celebrado.